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ARTIGOS

Durante o tempo em que trabalhei como psicóloga na Escola do Arco, Ajuda de Mãe, tive o privilégio de escrever todos os meses, um pequeno artigo para o jornal da escola. Partilho convosco os que achei mais interessantes.

EU gosto de TI

A forma como olhamos e nos vemos a nós próprios em relação aos outros e a forma como nos sentimos na nossa forma de estar, de falar, de sorrir, de andar e de ser, costumam chamar de auto-estima, assim dizem os especialistas. Os primeiros anos de vida são cruciais na edificação da nossa auto-estima e o papel dos pais e da família é fundamental, a escola tem uma participação especial e ativa neste tema, a criança tem de sentir-se amada, acarinhada, estimada e valorizada, são bem vindas todas as expressões de afeto e de valorização. Nos primeiros anos, desde muito cedo, a criança constrói a sua imagem com base no envolvimento e do seu contexto externo, onde os juízos de valor que os pais vão emitindo ganham corpo e alma, desejando eu, que sejam SEMPRE de forma positiva e construtiva. Vemos desde o nascimento, a fascinante troca de olhares onde os progenitores seguram o seu bebé e permanecem apaixonados e presos por minutos infinitos, emitindo sons, sorrindo e expressando inúmeras expressões de afeto, começando desde os primeiros dias essa instintiva longa caminhada de interação afetiva. Nunca deixe de dizer ao seu filho/a GOSTO DE TI, nunca se esqueça do abraço e de muito colo, elogie cada conquista, não se canse de lhe dar mimos, mas sem nunca, mas mesmo nunca, se desviar das regras e limites, que são fundamentais para o desenvolvimento infantil, andando sempre de braço dado com a firmeza e o afeto!

SER Criança

Quando falamos na declaração universal dos direitos das crianças, recordamos sempre um elenco de direitos, onde residem sem qualquer exceção, distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou de origem social, posição económica, nascimento ou outra condição, todas as crianças. Este seria um desejo de todos nós, mas quando assistimos a fatos em que estes direitos não tem voz, sentimos que a vida não é justa e estamos a toda a hora a criar momentos em que a alegria, a dignidade, o respeito e o afeto estejam sempre presentes no mundo das crianças.... mas não chega... não é suficiente.... e é necessário não desistir, nunca ignorar o sofrimento, a dor e o desamparo de uma criança, somos todos responsáveis por erguer estes direitos. Quero deixar uma mensagem de esperança a todos os adultos que em cada dia das suas vidas, nos seus gestos e nas suas ações promovam o sorriso e a dignidade do direito das crianças.

Hora da Refeição

Os pais tem um papel fundamental no desenvolvimento dos seus filhos, a alimentação é dos temas centrais do quotidiano das famílias, que muitas das vezes, causa mais angústia e preocupação aos pais, a escola, por sua vez, tem um papel ativo. Cabe à família, a enorme responsabilidade de ser o modelo de referência positiva para os seus filhos, quer na escolha de uma alimentação saudável, quer no exemplo de uma boa relação com os alimentos e com as regras de estar numa mesa para a refeição. A comunicação familiar na hora das refeições deve ser um momento único de partilha de momentos do dia, deve ser um momento sem tensão, onde deverá existir disponibilidade dos adultos para a promoção destes hábitos saudáveis que devem acontecer, desde tenra idade. Na escola temos a preocupação, não só da seleção e escolha de uma alimentação equilibrada, mas também, que seja um momento em que as crianças se sintam confortáveis e confiantes. Crescer é uma aventura permanente em que as memórias da infância devem ser preenchidas por bons e saudáveis momentos, o futuro das nossas crianças dependem do modelo de referência afetivo dos adultos e dos que as rodeiam e que fazem com que se sintam únicas, felizes e motivadas. 

Devem os pais fazer das refeições um campo de batalha?

Nunca, os pais devem acreditar que vão fazer e dar o seu melhor, mas que podem errar, que podem inventar histórias, criar estratégias e devem sim, confiar em si mesmos na missão de que a hora das refeições merece ser tranquila e harmoniosa. É verdadeiramente muito importante a disponibilidade dos pais para os seus filhos em todas as etapas do desenvolvimento.

A manipulação das crianças

Face a uma atitude de manipulação é fundamental que os pais não recorram à chantagem como forma de calar e controlar a criança. É absolutamente espantoso a forma como as crianças manipulam os seus pais, como assumem, muitas das vezes, o papel principal e de destaque de uma cena em que vencem os pais pelo cansaço, ora choram, ora gritam, ora batem com os pés e amuam, ora insistem e persistem na satisfação dos seus desejos. Começam arduamente a pesquisar as melhores das estratégias, tentando encontrar os pontos mais frágeis dos pais, para poderem mover-se o melhor possível, como se de um jogo se tratasse. O importante é a antecipação do adulto, o diálogo, explicar à criança com clareza o que verdadeiramente é desejável e que deverá suceder, sem ameaças, sem prepotência mas sim com firmeza e convicção existindo sempre determinação, pois se hoje ditam uma regra amanhã outra, esta não será certamente a melhor forma e aqui a criança encontra logo uma estratégia para atuar utilizando as suas melhores “armas”. Esta é a forma facilitadora dos pais não se deixarem intimidar, não permitindo espaço para a manipulação. O que não elimina a utilização exemplar das crianças, mas se a persistência, a determinação e a regra estiver do lado dos adultos vai diminuindo este comportamento.

Depressão infantil

 

A depressão apresenta-se hoje com uma das maiores preocupações da Organização Mundial de Saúde, que considera que em 2020 será "a segunda moléstia que mais roubará tempo de vida útil à população". Cada vez mais, temos tido um maior número de crianças nas consultas de psicologia, onde no segundo semestre do primeiro ano de vida, já se podem detetar sinais, que consideramos necessário um "olhar" mais cuidado e profissional, pois quanto mais precoce se agir, melhor. Considero preocupante os bebés calmos, apáticos, os que ninguém os ouve, os que não dão trabalho aos pais e às educadoras, os que os pais, na maioria das vezes, referem que não deram por eles nos primeiros 6 meses de vida, normalmente estes comportamentos podem esconder problemas graves, daí a importância de se avaliar o mais cedo possível estas situações. Considero de leitura obrigatória, um artigo do Pedopsiquiatra Dr. Pedro Caldeira da Silva, sobre bebés tristes.

Há autores que afirmam que o prejuízo no desenvolvimento infantil pode ser a nível físico, cognitivo, psicomotor e psicosocial, afetando principalmente todos os pré-requisitos para a futura aprendizagem da vida da criança e que as manifestações depressivas que configuram um quadro clínico no desenrolar dos primeiros anos de vida, estão amplamente ligadas com transtornos do vínculo mãe/bebé, o abandono infantil, a privação materna e a psicopatologia dos pais.

Cada vez mais temos de ter um papel ativo junto das escola, com as famílias, com as equipas e técnicos, no sentido de promover e  sensibilizar a sua atenção para este tema da depressão infantil, criando espaços de partilha, de debate, de conhecimento, no sentido de promover a harmonia no desenvolvimento das nossas crianças.

Podemos falar em dificuldades motivacionais nas crianças?

Nem sempre é fácil para os pais entenderem e desmistificarem o que faz muitas das vezes, as crianças apelarem para não irem à escola, podemos entender que faz parte de algo que desencadeou este sentimento e que leva a esta desmotivação e podemos sim, falar disto desde muito cedo, na pré-escola, por exemplo, há crianças que sentem e que exprimem o sentimento de não querer ir à escola, cabe aos pais e aos educadores terem um papel ativo e atento, com a devida sensibilidade para se detetar e ultrapassar esta dificuldade, que se for duradoura deverá ser avaliada por profissionais competentes. Mas o que realmente é interessante de se verificar e observar é a diferença entre crianças integradas e menos integradas (por inúmeros motivos), arrisco mesmo a escrever crianças motivadas e crianças desmotivadas. Ao longo de um ano letivo, a criança deve sentir-se feliz, segura, tranquila e motivada no seu espaço escolar. Este fato é demasiado importante, numa perspetiva de se assegurarem as aprendizagens futuras para uma sala de 1º ano e seguintes. Deverá existir uma interação permanente, os educadores devem assegurar e articular os momentos mais importantes com a família, solicitar a intervenção dos pais, dinamizar situações entre todos, criar espaços interativos. A relação pedagógica, reveste-se de uma importância fundamental no desenvolvimento cognitivo, emocional e pessoal das crianças e na criação de um ambiente facilitador do processo das aprendizagens, onde os fatores motivacionais assumem grande destaque. Numa perspetiva neuropsicológica, como refere António Damásio, os sentimentos funcionam como marcadores somáticos, que controlam os processos de decisão que estão subjacentes a todo e qualquer comportamento, tendo os sentimentos uma importância vital para o desenvolvimento, especialmente na infância. Parece-me importante as crianças levarem a escola para dentro das suas casas e levarem para casa a intensidade e os momentos que vivenciaram na escola, as brincadeiras, os jogos, falar aos pais dos amigos, o que correu bem e o que correu mal, brincar e brincar muito, correr, saltar, sujarem-se, dançar, cantar, traz evoluções preciosas e tão necessárias a um desenvolvimento harmonioso.

Todas as crianças tem o direito de Ser Felizes 

 

À semelhança do que acontece nos Estados Unidos desde 1983, há a comemoração e a consciencialização  para a importância da prevenção dos maus-tratos na infância, do fortalecimento das famílias, no sentido de uma parentalidade positiva. A O.M.S. - Organização Mundial de Saúde define abusos ou maus-tratos às crianças como todas as formas de lesão física ou psicológica, abuso sexual, negligência ou tratamento negligente, exploração comercial ou outro tipo de exploração, resultando em danos atuais ou potenciais para a saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade num contexto de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder e vai mais longe, pois,  estabelece ainda, quatro tipos de maus-tratos: físico, emocional, sexual e negligência. Segundo dados da O.M.S.  de 1999, referem que cerca de 40 milhões de crianças são vítimas de alguma forma de maus-tratos.

E então?

Qual o contributo de cada um de nós, que papel temos na nossa sociedade no sentido de proteger, prevenir e também denunciar este tema?

No dia a dia no meu trabalho, "preencho páginas (esforço-me por isso) livros de histórias de vida", onde existem famílias com crianças e adolescentes que pretendem ser felizes, que desejam arduamente uma mudança positiva, nestes dias e ao longo de muitos anos, deparo-me com muitas realidades duras, mas que eu tenho e todos os profissionais de saúde e de educação, que trabalham com crianças, têm que enfrentar e sem nada a temer, dando o nosso melhor contributo para um futuro mais saudável, onde se deverá fazer e instituir uma cultura de proteção à infância e para isso precisamos de um apoio mais sólido eficaz e célere na área da saúde, da educação e da justiça, essencialmente do profissionalismo dos nossos tribunais de família e menores, e esta sim, é uma responsabilidade que sinto que é minha, que é sua e que é de todos nós, só assim podemos falar em direitos da criança e pelo interesse superior da criança.

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© 2022 por Susana Martinho, psicóloga clínica. 

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