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Anorexia
A Anorexia

Um aumento de consultas em 2020, pós o primeiro confinamento trouxe-nos uma avalanche de miúdas entre os 11 e os 14 anos. Rapidamente criámos uma unidade entre profissionais de saúde para articularmos de forma estreita e sermos breves na resposta, com o grande contributo da família, que se uniu para investir no tratamento, que não passa só pelo peso e pelo plano alimentar, mas também pela intervenção psicológica. Esta grave perturbação de comportamento alimentar é brilhante na sua atuação, subtil, atrevida e manipuladora, não se escolhe ter uma anorexia, não é uma opção, não é uma birra, não é um capricho e nada se compara à célebre frase “a mania das dietas”. Os dados epidemiológicos apontam para uma afetação maior no feminino e parece-me, que cada vez mais cedo, mas vamos aguardar estudos mais recentes. O recurso à Pedopsiquiatra é fulcral a par do grande apoio da Nutrição, da Pediatria e da Endocrinologia. Nem sempre o internamento é opção, apenas quando é necessário e é sempre doloroso, então nesta fase de pandemia é terrível, há grandes restrições nas visitas, há muita cautela, com rigor absoluto, nem sempre sentiram o internamento como “simpático”, mas a palavra de ordem é atingir a estabilidade e a melhoria. Em tom de desabafo, para mim a anorexia é das doenças mentais mais detestáveis, porque é persistente, dominadora e lenta....tenho por defeito ou por norma, transformar as consultas em duas partes, uma parte em que se fala sobre o “combate”, a batalha que temos de travar para atingir um plano estável de bem estar e outra parte para projetos futuros e de dia a dia, para além de aspetos psicológicos sempre a ter em conta, atendendo às características individuais de cada uma. É um processo longo e penoso para os adolescentes e as suas famílias, muitos entram em desgaste, desesperam, a comida torna-se um drama, que não queremos que seja, pois é o melhor dos medicamentos para esta doença. Existem casos no masculino, mas numa percentagem reduzida e na infância a anorexia também se manifesta, embora numa percentagem menor.

Peço especial atenção aos pais neste novo confinamento, apesar de sabermos todos que a preocupação com o corpo e a imagem fazem parte das vida das adolescentes, mas temos de estar atentos quando começam a evitar refeições, quando fazem restrições bruscas, excesso de exercício físico, excesso de visualizações nas redes sociais em temas de interesse para perder peso, quando começam a anotar as calorias nas refeições, surge por vezes, um maior isolamento, baixa auto-estima....podem ser alguns dos sinais de alarme. Atravessamos um período complexo e quanto mais cedo a anorexia for detetada, mais rápida é a intervenção.

Obrigada a toda a equipa do Hospital D.Estefânia e a todos os profissionais de saúde que fazem parte destes processos, onde temos adolescentes tão corajosos com famílias incríveis que acordam todos os dias com força para que a Anorexia se afaste para bem longe.

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© 2022 por Susana Martinho, psicóloga clínica. 

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